O que eu fiz para conseguir trabalho em outro país. Eu emigrei para Espanha faz 5 anos e meio. Sou de Foz do Iguaçu, no Brasil. Terra das maravilhosas Cataratas do Iguaçu. Em 2015 vim pra cá complementar meus estudos em Psicologia Organizacional, do Trabalho e de Recursos Humanos com um mestrado. Era pra ser dois anos e acabei ficando 5 e continuo aqui. Consegui o primeiro trabalho na Espanha e fui me enraizando. Também vi e acompanhei de perto muita gente na sua odisseia para conseguir trabalho em outro país.
Nesse post, eu quero compartilhar com vocês a minha experiência de encontrar trabalho na Espanha, como me senti e o que aprendi pelo caminho. Mas antes, acho importante dizer que o meu proceso de emigrar foi carregado de alguns privilegios. Eu tive a possibilidade de escolher, tinha um colchãozinho financeiro e uma bolsa de estudos. Não é o caso de muitas pessoas que são forçadas por diferentes razões a deixar seu país ou sua região para tentar a vida em outro lugar. O que eu conto aqui é um recorte de uma realidade que, infelizmente, não é a da maioria das pessoas e não pretendo de nenhuma forma generalizar ou dizer como se devem fazer as coisas. É um relato da minha experiência que pode ressoar para algumas pessoas.
Momento 1 – crise de identidade profissional
Talvez, para conseguir o seu primeiro trabalho aqui, você tenha que sacrificar os seus anos de estudos universitários e uma carreira de sucesso em uma empresa brasileira para começar com uma posição mais baixa, e com o tempo, pouco a pouco, voltar a crescer na área que você escolher.
Isso aconteceu comigo. E no começo foi bem tenso, me sentia mal emocionalmente, como se a minha identidade profissional tivesse sido roubada. Eu deixei um trabalho muito bom no Brasil, que eu adorava. Era na minha área, em uma empresa incrível (beijo pro PTI em Foz do Iguaçu e para aquela equipe de RH maravilhosa), e com possibilidades reais de crescimento profissional que já estavam acontecendo: eu já era gerente interina do departamento de RH, que era o primeiro passo para continuar crescendo na carreira de liderança que eu queria seguir naquela época. Me sentia realizada e orgulhosa.
Mas, a oportunidade de fazer um mestrado em Psicologia do Trabalho na Europa apareceu na minha vida e eu decidi pegar esse trem. Foi uma transição muito louca. Uma mudança de país, de cultura, um idioma que eu nao sabia e uma rotina completamente diferente: de gerente de RH em uma empresa com 500 trabalhadores, passei a ser estudante bolsista de mestrado full time. Foi como voltar pra faculdade só que com 27 anos, no exterior e com outro idioma.
Por um tempo eu não soube o que responder quando me perguntavam: o que você faz profissionalmente? Foi punk essa adaptação, sofri por um tempo, achei que não seria capaz de fazer um mestrado, me sentia uma impostora, chorei muito e me arrependi algumas vezes dessa decisão. Mas não desisti. Busquei ajuda profissional e comecei a fazer psicoterapia aqui na Espanha (outra experiência muito louca no bom sentido) e com o apoio de amigos e da família que conheci aqui, segui em frente e me adaptei. Terminei o mestrado.
2- Momento “ninguém vai me contratar porque sou estrangeira”
Quando eu já tinha superado a crise de identidade profissional e me sentia segura com meu novo status, chegou a hora de fazer o estágio obrigatório para concluir o mestrado. Eu já tinha 5 anos de experiência profissional em RH e era gerente de departamento antes de vir pra cá, mas nada disso me importou, não tive nenhum problema com o fato de voltar uns passos atrás e fazer estágio, não me senti menos profissional por isso.
Até que comecei a procurar estágio e demorei 3 meses pra conseguir uma oportunidade, já estava acabando o prazo. E foi aí quando eu me questionei de novo: por que nenhuma empresa me contrata se eu tenho experiência? Eu pensava: serei uma estagiária ótima, por uma bolsa de estágio (e até sem bolsa) eles vão ter uma pessoa com experiência. Doce ilusão, né? Como se nota que faltava mais conhecimento do mercado de trabalho aqui.
As empresas buscavam realmente uma estagiária, alguém sem experiência, super junior, para ensinar e moldar ao seu estilo.
Depois de bastante estresse e muito questionamento sobre minhas capacidades profissionais – cheguei até a pensar que não me contratavam porque eu sou estrangeira – consegui estágio em uma empresa ótima em Barcelona, era uma tech startup com um departamento de RH super vanguardista e onde eu aprendi todo um novo mundo em recursos humanos.
E consegui essa vaga usando minha rede de contatos, o que foi outra lição aprendida: o networking para conseguir trabalho funciona muito. É o que melhor funciona e é um investimento mais que garantido. Uma recomendação não tem nada a ver com “chuncho” no processo de seleção. Ninguém me “colocou dentro” porque era minha amiga ou conhecida, mas introduziram meu perfil o que agilizou e facilitou pra eu fazer as entrevistas de seleção.
Momento 3 – a burocracia de trabalhar em outro país
Acabou o estágio. Não tenho visto de trabalho, mas quero continuar aqui. O que eu posso fazer?
Primeiro: eu defini meu plano de ação. Tinha economizado dinheiro suficiente pra viver aqui por alguns meses sem trabalho. Decidi procurar trabalho na minha área, em RH. E se nesse período eu não conseguir nada, voltarei para o Brasil. Eu tinha muito claro que queria trabalhar como RH e eu sabia que seria possível: tinha experiência na área, um mestrado em uma universidade espanhola, experiência em uma empresa espanhola (poucos meses, mas já era alguma coisa), já dominava melhor o idioma: só precisava encontrar uma empresa que estivesse disposta a patrocinar meu visto. “Só isso” eu pensava….
Entre pedras e percalços no caminho do visto, consegui trabalho em RH em outra startup. Lembro muito do dia que me deram a notícia: saí pulando e gritando pelo apartamento, rindo e chorando ao mesmo tempo.
No começo meu contrato foi como estagiária, porque eu tinha visto de estudante e era o que eu podia fazer. Depois, quando já tinha visto de trabalho e residência, meu contrato passou a ser indefinido, com INSS e tudo que uma trabalhadora tem direito. Aquele primeiro estágio me abriu portas para começar minha carreira em RH de startups em Barcelona. Aprendi muito e ampliei minha visão sobre o mundo dos recursos humanos.
E a partir de aí, tudo fluiu para minha carreira profissional aqui na Espanha. Descobri o caminho das pedras tropeçando e tomando alguns tombos, mas sem acidentes graves.
E agora, 5 anos depois, 2 empresas espanholas e uma experiência incrível como gerente de RH na bagagem, oriento a brasileiros e brasileiras que também querem emigrar para Espanha ou que já estão aqui mas querem dar um giro na sua carreira. Conseguir um trabalho em outro país pode parecer uma missão impossível à primeira vista. Mas te garanto que é muito mais fácil do que parece quando reunimos os ingredientes necessários que, segundo minha própria experiência como imigrante e também como profissional de recursos humanos, são: organização, planejamento, resiliência e flexibilidade; mas principalmente a vontade de aprender algo novo e talvez completamente diferente do que você imaginou quando decidiu emigrar.
Um beijo para todas e todos nós, pessoas corajosas que decidiram emigrar.
Fica ligada nos meus posts aqui no Blog Gerandium e no Instagram: compartilho conteúdo sobre a odisseia de emigrar e conseguir trabalho no exterior.